Quando realizamos a primeira edição do BrLab, em julho de 2011, junto ao Festival de Cinema Latino-Americano de São Paulo, havia muito entusiasmo e uma sensação de que iniciávamos um programa que iria contribuir para o desenvolvimento cultural e econômico do setor audiovisual tanto no âmbito da América Latina como para o Brasil – ainda carente de maior internacionalização e melhor integração com nosso entorno geográfico latino-americano. Mais ainda, tínhamos indiscutível certeza de que iniciávamos um projeto bastante urgente e sem precedentes no Brasil. Em 2013, quatro projetos de diretores estreantes na direção de longa-metragem, e que participaram dessa primeira edição em 2011, chegaram às telas, exibidos com destaque em importantes festivais no Brasil e no exterior. O filme baiano Depois da chuva, de Cláudio Marques e Marília Hughes, e o pernambucano Amor, plástico e barulho2 , de Renata Pinheiro realizaram suas estreias na edição passada do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro , onde receberam três importantes prêmios cada um . O Lobo atrás da porta5 , produção paulista dirigida por Fernando Coimbra, foi o vencedor do prêmio Horizontes da seção “Horizontes Latinos” na 61ª edição do Festival Internacional de Cinema de San Sebastián, na Espanha; e ainda dividiu com De Menor, de Caru Alves de Souza, o prêmio de Melhor Longa-Metragem da seção “Première Brasil” do Festival do Rio 2013. O longa mexicano dirigido por David Pablos, La Vida después6 , realizou sua estreia internacional na prestigiosa seção “Orizzonti” do 70º Festival Internacional de Cinema de Veneza. 

Foi graças à realização do BrLab naquele ano que desenvolvemos a tenacidade necessária que nos trouxe até a presente edição, realizada de 20 a 26 de outubro de 2013 em São Paulo. E foi por bem-aventurança que chegamos ao fim de mais uma jornada acompanhados por 24 participantes que nos recompensaram com seus projetos talentosos e histórias de generosidade e afeto. Vale lembrar também que, sem a colaboração de tutores, consultores e palestrantes, não teríamos chegado aos excelentes resultados que obtivemos neste ano. 

Nesta edição de 2013, através de uma nova e importante aliança, o BrLab passou a integrar as atividades da Mostra Internacional de Cinema em São Paulo. Neste sentido, gostaríamos de agradecer publicamente a Renata de Almeida e a Ivan Melo, além, é claro, a toda a equipe da Mostra, que nos acolheu com generosidade. Esperamos sempre poder retribuir, mantendo ativa essa parceria que, inclusive, se deu de forma tão harmônica. 

O BrLab se reafirma como espaço de referência para o desenvolvimento de projetos da região latino-americana no Brasil graças ao trabalho constante que nos permitiu avançar em direção a sua consolidação no calendário internacional de iniciativas similares. É incontestável que aproximações como as que promovemos no âmbito do laboratório servem também para proporcionar, naturalmente, oportunidades de cooperação internacional e intercâmbio entre profissionais, impulsionando cinematografias de diferentes países e, da mesma forma, impulsionando a difusão do audiovisual brasileiro no exterior. O BrLab se tornou um espaço ao qual profissionais da América Latina e da Europa chegam espontaneamente, interessados em estabelecer contato com novos projetos em fase de desenvolvimento, e muitas vezes, dessa aproximação, resultam parcerias inestimáveis. 

Nos anos que seguiram à primeira edição do BrLab, foram publicados dois documentos que estabelecem estratégias para o desenvolvimento da economia criativa no país e do setor audiovisual brasileiro. Em dezembro de 2011, o Ministério da Cultura publicou detalhadamente o conjunto de metas que compõem o Plano Nacional de Cultura7 , e, em agosto de 2012, a Agência Nacional do Cinema divulgou seu Plano de Diretrizes e Metas para o Audiovisual (PDM) – publicado em agosto de 2013, após consulta pública, e que foi chamado de “Plano de Diretrizes e Metas para o Audiovisual: O Brasil de todos os olhares para todas as telas”8 . Ambos os documentos estabelecem bases para o desenvolvimento das políticas culturais, da economia criativa e do mercado audiovisual brasileiro até 2020. 

Como não cabe aqui uma análise minuciosa de seus conteúdos, apenas destacamos recortes pertinentes ao nosso tema. O PDM, por exemplo, tem como Diretriz Geral “Estabelecer as bases para o desenvolvimento da atividade audiovisual, baseada na produção e circulação de conteúdos brasileiros, como economia sustentável, competitiva, inovadora e acessível à população, e como ambiente de liberdade de criação e diversidade cultural”. Fica eminente, na forma como a Diretriz Geral se apresenta, a necessidade de se repensar o modo como o nosso mercado está estruturado atualmente. Ambos os documentos são bastante enfáticos sobre a importância que têm os programas de formação e qualificação profissional para o desenvolvimento mais sustentável tanto da economia criativa como um todo, quanto especificamente do setor audiovisual brasileiro. 

O PDM da ANCINE aponta como sete as iniciativas necessárias para constituir uma “produção audiovisual forte e com vitalidade”, e para que “a obra audiovisual brasileira cresça no cenário projetado”. A segunda iniciativa fundamental para tal expansão consistiria na ampliação do “investimento em inovação, pesquisa e qualificação dos agentes, projetos e obras, assim como nas escolas de cinema e audiovisual”. Já as metas de números 18, 19 e 25 do Plano Nacional de Cultura do MinC, determinam, respectivamente: o “aumento em 100% no total de pessoas qualificadas anualmente em cursos, oficinas, fóruns e seminários com conteúdo de gestão cultural, linguagens artísticas, patrimônio cultural e demais áreas da cultura”; o “aumento em 100% no total de pessoas beneficiadas anualmente por ações de fomento à pesquisa, formação, produção e difusão do conhecimento”; e o “aumento em 70% nas atividades de difusão cultural em intercâmbio nacional e internacional”. 

Em nossas alianças internacionais já constituídas, e a cada proposta que recebemos, tomamos sempre o cuidado em não reproduzir modelos em ações bilaterais “simbióticas”, que muitas vezes apenas acarretam um certo tipo de “amalgamento” de conteúdos. Também nos precavemos, nesse mesmo cenário, para não resvalar em dispositivos mecânicos, automatizados, fruto de séculos de “colonialismo cultural”. Porque nos custa colher os frutos semeados e porque a interlocução é nossa semeadura. 

Aqui nos cabe, finalmente, agradecer enormemente a todas as instituições que participam do BrLab em diversas esferas – especialmente à Secretaria do Audiovisual do Ministério da Cultura incentivadora de todas as edições do programa –, e às instituições colaboradoras, tutores, profissionais, participantes e amigos de todo o mundo que acreditam e contribuem para a consolidação desta iniciativa. A nós nos cabe também seguir trilhando soluções criativas para que avancemos ainda mais, e quiçá, para que sejamos reconhecidos mais como uma ação da sociedade civil em parceria com políticas públicas consonantes para o audiovisual do que como uma iniciativa privada isolada, que se confunde e se perde entre outras.

PROJETOS SELECIONADOS